Nós, do Nova Força, grupo político composto por associados do São Paulo Futebol Clube, recebemos com surpresa as notícias sobre a convocação de reunião extraordinária do Conselho Deliberativo para debate e aprovação de reforma estatutária.
Antes de qualquer coisa, é fundamental destacar a forma pela qual essa discussão foi levada ao Conselho.
Mudanças tão significativas no principal documento que rege o Clube não podem ser debatidas em prazo tão curto, dado que, de acordo com o documento de convocação na área de transparência do site do clube, a reunião foi marcada já para o próximo dia 18 de novembro de 2021, com apenas 8 (oito) dias de antecedência.
Em nossa visão, algo tão importante deveria ser precedido de profundo diálogo com toda a comunidade são-paulina – incluindo conselheiros, associados e torcida – garantindo, assim, o tempo necessário para debate detalhado e com a devida atenção a todos os tópicos.
Além disso, foi divulgado pela imprensa que houve imposição pela Presidência do Conselho Deliberativo de sigilo sobre os temas a serem votados. Essa determinação impossibilita a discussão sobre as propostas e afasta associados e torcedores do debate, aliás, tal postura escancara antagonismo com as próprias promessas de transparência tão enfatizadas durante a campanha do último pleito eleitoral pelos que agora compõem os cargos de liderança no Conselho Deliberativo.
Apesar da determinação antidemocrática de confidencialidade exigida pela Presidência do Conselho Deliberativo, o teor de parte das mudanças estatutárias tornou-se público em diferentes veículos de mídia.
Há diversos tópicos problemáticos e potencialmente danosos ao Clube, visto que resultam em centralização de poder e cerceamento dos mecanismos democráticos internos, diminuindo o direito de voz e poder da minoria que se contrapõe à gestão.
Dentre eles, destacamos:
Estabelecimento da possibilidade de reeleição para o cargo de Presidente da Diretoria, com validade já para a gestão atual;
Aumento do tempo de mandato dos atuais membros do Conselho para seis anos;
Estabelecimento de lista de chapa única para cada eleição de novos conselheiros vitalícios e membros do Conselho Fiscal, do Conselho de Ética e da Comissão Disciplinar;
Possibilidade de que conselheiros assumam cargos de Diretoria, ainda que sem remuneração;
Criação de suspensão automática, aplicada sumariamente pelo Diretor Social, por “desarmonia social”, que naturalmente acarretará apenas em perseguição política de vozes destoantes no Clube e de forma totalmente subjetiva, legalizando processo que hoje já ocorre, conforme noticiado pela imprensa.
Tratam-se, assim, de mudanças no Estatuto exclusivamente para fins políticos, visando perpetuar os que estão hoje no poder em suas posições, bem como diminuir e impossibilitar a participação de opositores no processo político.
Em tempos nos quais diversos clubes vêm modernizando sua estrutura societária e legal, trazendo mais democracia, transparência, participação de torcedores em seu processo eleitoral e pluralidade, é triste e preocupante ver que o São Paulo Futebol Clube busca seguir o caminho contrário.
Aliás, diante de tal quadro, se torna ainda mais importante uma verdadeira discussão acerca da melhor forma de separação entre o futebol e a área social, e não apenas a criação de mais uma comissão para estudar, com prazo tão longo, a sua viabilidade.
A pergunta que fica é: por que a discussão sobre mudanças na estrutura do processo político do São Paulo Futebol Clube pode ser feita em 8 (oito) dias de modo sigiloso e privativo, e o estudo de viabilidade de uma separação entre social e futebol, que pode ou não acontecer, tem prazo de 1 (um) ano para discussão? A resposta para essa pergunta demonstra o real interesse por trás dessas questões.
O São Paulo Futebol Clube de todos nós clama por democracia e profissionalização. O São Paulo de todos nós precisa de atitudes imediatas. O São Paulo de todos nós não aguenta mais promessas vazias.
Caro torcedor, caro associado, caro conselheiro, não tenha dúvidas de que os resultados do campo são apenas reflexo do que é feito fora dele. Até para o São Paulo Futebol Clube, o time da fé, o preço a se pagar dentro das quatro linhas por conta de situações como essa, frise-se, é incalculável.
Não nos furtaremos ao tenebroso momento histórico que se avizinha e cumpriremos nosso papel de nos opor, no Conselho e na Assembleia, a estas tão danosas mudanças.
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